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'Síndromes' do trabalho provocam insegurança e baixa produtividade

'Síndromes' do trabalho provocam insegurança e baixa produtividade

 

Raquel Pimenta do Carmo, 27, foi promovida a gerente em junho. No primeiro mês na nova função, diz, começou a sofrer com ansiedade, ficou assustada e isso prejudicou sua produtividade.

Resultado: ela começou a passar mais horas no trabalho. "Não comentei no escritório que estava tão insegura. Se eu dissesse, iria prejudicar minha posição."

O que Carmo sentiu começa a ser descrito por consultores de carreira como a "síndrome do impostor": mesmo com evidências de que a pessoa tem capacidade para desempenhar uma função, ela sofre com a crença de que não está preparada.

Esse e outros comportamentos começaram a ser citados com mais frequência por "coaches" (espécie de terapeuta para o trabalho) e consultores de carreiras.

A "coach" Eva Hirsch Pontes afirma que esses comportamentos não são novos, mas hoje fala-se mais deles. Hugh Kearns, pesquisador da Universidade de Manchester, diz que um caso famoso ajuda a trazer a questão à tona. Em entrevistas, a atriz Emma Watson, que gravou os filmes do Harry Potter, afirmou sentir-se uma fraude.

Luis Henrique Ferreira, 37, gerente de eventos da Tour House, começou a se sentir inseguro e desconfortável quando passou a comandar 54 pessoas, no meio do ano.

Ele compartilhou esse receio com os seus superiores, que deram uma solução ao problema: para que a equipe não exigisse tanto dele, Ferreira foi nomeado como supervisor geral, um cargo que não existia, por seis meses.

Depois desse período, ele assumirá como o novo gerente. Isso deve acontecer no mês que vem.

"Esse degrau me deixou mais confiante. Não evitou que eu me sentisse inseguro, mas poderia ter sido mais cobrado ainda e, aí sim, gerar na minha equipe uma sensação de desproteção."

Para Irene Azevedo, diretora de negócios da consultoria LHH/DBM, o medo de uma demissão contribui para que as pessoas se sintam inseguras a esse ponto. "Vai aparecer cada vez mais."

Pontes aponta que outra síndrome, a da falta de foco, tem se tornado comum por conta da proliferação de computadores, tablets e smartphones.

RESISTÊNCIA

Dá-se o nome de passivo agressivo à postura de hostilidade velada, que aparece em forma de procrastinação, ressentimento ou o não cumprimento de uma tarefa.

O "coach" Roberto Affonso Santos chama de ambientes passivos resistentes os locais de trabalho que têm muitos funcionários que atuam assim. A consultoria norte-americana de seleção e consultoria de RH Hogan fez um estudo para dar dicas de como tornar esses ambientes mais funcionais.

Eles estimam que a grande maioria das empresas -80%- sofram, em algum grau, com a postura passiva-agressiva dos profissionais.

Para Santos, ambientes passivo resistentes se tornaram mais comuns por conta de uma rotatividade maior no mercado de trabalho.

Segundo ele, é uma maneira até mesmo de os funcionários se protegerem. Em vez de se posicionarem explicitamente contra um chefe, por exemplo, finge-se que se concorda com todas as estratégias, mas não se segue nenhuma. "Trata-se de um estímulo ao 'me engana que eu gosto'", afirma o coach.

O gerente de planta Marcelo Pinton, 49, afirma já ter trabalhado com subalternos que se portam dessa forma. Ele desenvolveu uma prática para identificar a situação: quando conversa com o funcionário, repara bastante na postura e na fisionomia dele.

"Ele afirma que concorda e que me entende, mas o corpo fala o contrário."

Pinton conta que, nesses casos, costuma acompanhar de perto o desempenho do funcionário, para que o trabalho não desande.

Entre as recomendações da Hogan, estão a de forçar os profissionais passivos agressivos a dizer claramente quando se sentem frustrados e ainda "considerar as possibilidades de que outros conquistaram posições de autoridade porque são, de fato, competentes".

 

Fonte: Folha de São Paulo

09/12/2013
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